Ele não foi o maior, nem o mais poderoso, nem o de maior
alcance nem sequer o mais avançado avião de bombardeiro da II Guerra Mundial.
Perdia para o B-29 em sofisticação e poder de fogo e para meia dúzia de outros
concorrentes em altitude de voo, levava cinco vezes menos bombas que um
Lancaster inglês e sua velocidade era menor que a metade da velocidade máxima
do Arado alemão. Mas salvou a Boeing da falência e ajudou a derrotar a Alemanha
e o Japão. Simplesmente por que estava disponível na hora em que era mais
necessário.
Ele (ou ela, a ´Fortaleza voadora``) era um quadrimotor de
19 toneladas que qualquer cadete recém saído do treinamento podia pilotar e que
custava para construir aproximadamente um décimo do preço de um pequeno jato
comercial moderno do mesmo peso como o ERJ 145 da Embraer. A história do B-17 começou nos anos 30, fruto de uma disputa
entre o Exército e a Marinha dos EUA sobre qual a melhor maneira de defender o
imenso litoral do país de uma invasão inimiga.
A Marinha insistia numa esquadra poderosa quando a Aviação
do Exército lançou o ´´Projeto A`` para desenvolver um bombardeiro com alcance
de 7.500KM capaz de transportar 1
tonelada de bombas a 300Km/h. Mais ainda: o novo avião teria que ser capaz de
se deslocar rapidamente para reforçar as posições americanas na Havaí, no Panamá
e no Alasca sem instalações especiais para recebe-lo. O desafio tecnológico era
grande, mas foi aceito pela então jovem Boeing Airplane Company, que não tinha
tradição para por em risco com um eventual fracasso. O resultado foi um
bombardeiro de linhas elegantes e asas largas para decolar e pousar lentamente
e voar longe.
O protótipo tinha quatro motores Pratt & Whitney
R-1690-E, de 750 HP cada. O primeiro protótipo voou no dia 28 de Julho de 1938,
e foi designado YB-17 pela Aviação do Exército. Pouco tempo depois foi
transferido para a base militar de Wright Field, para ensaios de serviço, e nos
meses seguintes pulverizou todos os recordes anteriores de outros bombardeiros
norte-americanos em altitude de voo, autonomia, velocidade de cruzeiro e
docilidade de comandos.
Num esforço para
divulgar a capacidade bélica do país, os norte-americanos enviaram, em Fevereiro
de 1938, seis de seus novos B-17 num voo de boa vizinhança entre Miami e Buenos
Aires. Um segundo lote de 50 bombardeiros B-17 foi encomendado em 1938. O avião
já estava Desenvolvido, pronto para uso. E ainda melhor depois de equipado com
o novo visor de bombardeiro Norden que a propaganda governamental de Washington
alardeava ser capaz de acertar uma bomba num barril de picles de uma altitude
de 10.000 metros.
Novo Contrato
Para treinar ainda
melhor seus pilotos o Exércitos enviou , em novembro de 1939, sete bombardeiros
B-17 em voo direto até o Rio de Janeiro, pouco antes da assinatura de outro
contrato para mais 38 dos novos aviões firmado com a norte-americana Boeing. Esses seriam da versão B-17C, a primeira considerada
operacional. Nela foram eliminadas os casulos aerodinâmicos para metralhadoras
nos flancos da fuselagem e os motores substituídos pelos novos Cyclone
GR-1820-65,de 1.200 HP cada. Mas quando a II Guerra começou, em setembro de
1939, a USAF (Força Aérea Americana) possuía apenas 23 Fortalezas Voadoras operacionais.
A Boeing desenvolveu a versão B-17E, que possuía deriva bem
maior, torres defensivas na cauda e na barriga e substituía quase todas as
metralhadoras .30 por novas .50. Na Europa foi criada a Oitava Força Aérea dos
EUA, com sede na Inglaterra, e logo a B-17 se transformou na sua principal arma
de ataque, tendo a primeira pousado em Prestwick, em Julho de 1942 exatamente
enquanto as B-17 Sobreviventes da invasão nipônica se retiravam para a Austrália. A Real Força Aérea recebeu 45 desses aviões da versão E em
meados de 1942 e logo em seguida os selecionou em razão de sua grande autonomia
para patrulhar o oceano caçando submarinos nazistas.
A versão F surgiu em Abril de 1942, com nariz alongado,
armamento melhorado e sistemas de bordo mais sofisticados. Pesava uma tonelada
à mais que a versão ´´E`` e possuía melhorias no freios, portas bombas, sistema
interno de comunicações e alimentação de oxigênio. A produção seriada de B-17F
prosseguiu pelo período de 11 meses. Esse modelo foi o principal elemento do
início dos ataques diurnos pesados norte americanos às indústrias da Alemanha.
O Por que do apelido
Foi quando as Fortalezas Voadoras precisaram justificar seu
apelido belicoso, já que os caças da Luftwaffe passaram a ataca-las prioritariamente
causando perdas de até 10% nas missões mais longas. Cada B-17F/G transportava
de 11 a 13 metralhadoras pesadas de até 5.770 cartuchos de 12,7mm para defesa.
Mas em um ataque de 291 fortalezas voadoras contra instalações industriais de
Schweinfurt, 60 foram derrubadas, forçando a Oitava Força Aérea a não mais se aventurar
sem proteção de escolta de caças nos céus da Alemanha. No Pacífico a grande autonomia da B-17 ajudou os Aliados a
empurrar de volta as forças nipônicas que tinham chegado ás proximidades da Austrália,
enquanto no Mediterrâneo as B-17 ajudavam a destruir forças alemãs e italianas,
primeiro no Norte da África e depois na própria península italiana, na Grécia e
na Iugoslávia.
Em fins de 1944 e no início de 1945 a vida útil operacional
do B-17 estava chegando ao fim. Em Agosto de 1944 os norte americanos tinham
ainda 4.574 desses bombardeiros em operação na Europa, mas começaram a
introduzir outras versões especializadas. Os ingleses equiparam alguns com
sistemas eletrônicos para embaralhar os radares da defesa alemã durante seus
ataques noturnos, enquanto os norte americanos equiparam outros para fazer
reconhecimento fotográfico sobre regiões a serem bombardeadas. Alguns B-17
receberam sob o ventre grandes barcos de salvamentos para serem lançados de
paraquedas a náufragos no mar, enquanto a torre sob o nariz era substituída por
uma antena da radar.
Mesmo assim, durante a II Guerra, os B-17 lançaram 640.036
toneladas de bombas sobre alvos do eixo na Europa, contra 452.508 toneladas
lançadas pelos B-24 Liberator. Cobraram um alto preço para isso: relatórios
estudados após a Guerra mostram que as defesas das fortalezas voadoras destruíram
em média 23 caças inimigos a cada 1.00 missões de ataque realizadas, contra 11
destruídos pelos caças americanos. No Pacífico os aviões B-17 logo cederam
lugar os modernos B-24 e aos B-29. Mas mesmo assim, sua participação foi muito
importante para a vitória na Ásia.
No Final da II Guerra
Com o fim da II Guerra o B-17 saiu rápido das unidades de
bombardeiro, embora muitos permaneceram em uso em missões secundárias como as de busca e salvamento no
mar, ligação, transporte, espionagem eletrônica, apoio À exploração cientifica
na Antártida e no Ártico e caças aos icebergs que ameaçavam a navegação
mercante. Aviões B-17 foram usados pelos norte americanos na Guerra da
Coréia (1951-1953) e como aparelhos de Aerofotogrametria pelos franceses até os
anos 70. Os israelenses utilizaram alguns como bombardeiros na campanha de
1956.
O Brasil recebeu seus primeiros B-17 no inícios dos anos 50,
na sua maioria das versões E, de bombardeiro, e PB-1G para missões de busca e
salvamento. Quando o país enviou tropas para ajudar as forças da Organização
das Nações Unidas(ONU) a vigiar a paz no Oriente Médio, em meados dos anos 50,
foram os B-17 da FAB que por primeiro fizeram voos levando e trazendo pessoas, remédios
e correspondências entre o continente africano e o Brasil. Os B-17 da FAB
voaram nessas missões até que foram enfim substituídos pelos cargueiros C-54,
mais apropriados para esse tipo de missão de transporte. A retirada de serviço do derradeiro B-17 da FAB encerrou também,
não sem deixar saudades, o último capítulo na história de um dos mais versáteis
quadrimotores da história da aviação militar.
Restaram no mundo tão-somente uns
poucos exemplares, que viraram peças de museu ou passaram a integrar coleções
de aeronaves histórica.
Por: Roberto Pereira
Digitação: Rock & Aircraft
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